Nossa Timeline do Facebook nada mais é que um grande Agora, um momento presente que discute o presente. Não há muito espaço para reflexão, no máximo vinte ou trinta linhas, alguma legenda de imagem postada ou artigo que saiu hoje, agora, imediatamente.
Há uma questão interessante e positiva ao situar a experiência de vida no presente. Um monte de pensadores escreveu sobre "viver o presente": é o que temos, já que o passado e o futuro são ilusões, narrativas ficcionais, construções e elaborações mentais. O que nos resta é o presente.
Mas o estranho é que esta vivência do imediato não acontece apenas no mundo real, mas também num mundo virtual (redes sociais e coisas do gênero), e muitas vezes é auto-referente a este mundo, que curiosamente também não existe, como o passado e o futuro "reais".
Isto nos coloca numa situação esquisita, já que passamos a viver um Agora Virtual, não real, e acabamos usando este Agora Virtual como base vivencial.
Curiosamente a palavra Agora vem de Ágora, que era o espaço de debate em Atenas, onde o bom e velho Sócrates passeava e fazia questionamentos filosóficos e existenciais para os cidadãos. E hoje a Ágora é virtual, o espaço de debate são as redes sociais, onde mantemos contato com os conhecidos e os queridos e temos alguns debates, mas todos estes debates são permeados pelo Agora Virtual, pelo imediato, pelo noticioso e pelo auto-referente.
Nesta situação acabamos vivendo mais as construções de realidade dos outros (já vivíamos estas construções antes, mas hoje elas se tornam mais intensas), e juntos construímos uma nova e virtual percepção de realidade coletiva.
Será que não está na hora de relembrarmos o questionamento socrático, tentar investigar um pouco mais algumas questões que acabam ficando sem ser discutidas? Precisamos parar de remexer na espuma e nos aprofundarmos um pouco mais sobre este estranho mundo virtual em que achamos que vivemos. Não analisando nem teorizando, simplesmente vivendo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário