Já tinha percebido que as listas estavam na moda quando uma Assessoria de Imprensa me disse: Você deveria organizar os seus posts do blog em formato de listas, tipo "10 Dicas para o Sucesso", ou algo do gênero.
Observando mais atentamente o formato dos artigos dos portais de negócios, percebi que as listas dominaram o pensamento corporativo. Por um lado as listas fazem um certo sentido, por outro não fazem sentido nenhum.
Por que fazem algum sentido?
Porque o trabalho precisa ser organizado, precisamos de listas do que fazer para fazermos nossos projetos irem para a frente. Até para irmos ao supermercado uma lista é bem-vinda. Elas ajudam a definirmos o que é prioritário, e o mais importante: podemos "dar baixa" nos itens que listamos. Uma das melhores coisas que existem quando trabalhamos é podermos, ao final do dia riscarmos tudo aquilo que tínhamos planejado para fazer e perceber que nada ou pouca coisa ficou faltando.
Não há dúvida que listas são importantes para gerenciarmos tarefas, o mundo está complexo e precisamos saber as mil e uma coisas a serem feitas. Mas é bom lembrar que estas são ações operacionais, num plano muito simples das atividades que precisam ser realizadas. Existem outras coisas que não podem ser circunscritas no mundo das listas, e fazem parte do mundo do trabalho. "Refletir sobre minha carreira" é uma questão fundamental, mas não faz sentido nenhum colocar numa lista de tarefas do dia. O que você vai fazer? Entrar no banheiro, fingir que está fazendo cocô e passar quatro ou cinco minutos pensando sobre isto?
Como "Refletir sobre minha carreira" não cabe no formato de listas a solução seria operacionalizar esta reflexão? Ao invés de colocar isto na lista, colocaremos então "Inscrever meu nome num site de empregos", "Atualizar meu currículo" ou "Fazer um MBA"?
Estas tarefas só fazem sentido se antes eu "Refletir sobre a minha carreira". Se eu não parar e pensar sobre minha vida profissional provavelmente vou trocar um emprego por outro semelhante, fazer um MBA porque todos ao meu redor estão fazendo e coisas do gênero. Neste sentido as listas são uma grande armadilha para a vida profissional.
Por outro lado elas também podem ser um perigo pois estabelecem matematicamente um número fechado de atividades que, a princípio, geram um determinado resultado. Resumindo: Elas simplificam problemas complexos, fazendo com que eles pareçam mais operacionais do que realmente são. "7 Dicas para conquistar mais clientes" esquecem de questões difíceis, como por exemplo análise de mercado, características de sua equipe ou coisas do gênero. Listas como esta podem servir apenas para reforçar a sensação de que "já estou fazendo a coisa certa, todas as coisas da lista estão OK". É o bom e velho auto-engano travestido de motivação e organização. Pode checar as milhares de listas disponíveis: A grande maioria das coisas já fazemos, sempre sobram poucas coisas que precisaríamos fazer para sermos um sucesso. E enquanto estamos tentando implantar aquilo, surgirá uma nova lista, com um novo item, que novamente descobriremos que está faltando. É o cachorro correndo atrás do próprio rabo.
Quando dava aula de Planejamento Estratégico uma das coisas que meus alunos tinham mais dificuldade era separar o que era Estratégico do que era Operacional. As ações sempre estão associadas a uma estratégia. Eles tinham facilidade de definir as ações, mas muita dificuldade em definir as estratégias.
De novo me lembro da frase do Baudrillard: Nossa sociedade adquiriu velocidade mas perdeu o sentido. Todos estão com pressa mas ninguém sabe para onde ir.
Muito cuidado com as listas.
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