segunda-feira, 29 de outubro de 2012

FECAP - Como melhorar a comunicação e gerenciar o cenário

 Trabalho há algum tempo com comunicação, e já fiz alguns importantes projetos na área de Fusões e Aquisições e Mudanças de Gestão (M&A e Change Management, se preferem).  Desenvolvi metodologias de pesquisa para monitorar Clima Organizacional e minha área de pesquisa acadêmica são as ciências cognitivas aplicadas ao universo do trabalho.

Todo este prólogo é para dizer que tenho algum conhecimento de causa quando falo sobre estes assuntos.

Estou acompanhando atentamente as notícias sobre uma possível venda da FECAP, centenária instituição de ensino de SP. Trabalhei nela por quase dez anos, e tenho amigos do coração que ainda trabalham lá. Minha filha estuda lá. Tenho grandes vínculos afetivos com a instituição e adorei a época em que trabalhei na FECAP, como professor e coordenador.

Surgiram boatos (a boa e velha Rádio Peão) que a instituição seria vendida. Há mais de ano circulam estas notícias pelos corredores, mas de forma relativamente controlada.
No segundo semestre deste ano a notícia estourou nas salas de aula da graduação: Existiria um grupo de investidores realmente interessado em fazer negócio com a FECAP.

Conflito de informação: A instituição negou com ênfase qualquer tratativa, mas notícias dos bastidores confirmavam uma possível negociação. O resultado? Os alunos foram estimulados a participar do debate. E os professores também.

Nada mais justo os alunos e professores quererem participar, mas a maneira de participar é relevante.  Dá para participar ajudando e dá para participar atrapalhando o processo.

Travestido de movimento cívico (Luta pela Centenária Instituição, Orgulho da identidade da Fundação, entre outros), cada grupo envolvido na verdade está preocupado com questões mais cotidianas e próprias. Os alunos temem que sua graduação "perca valor de mercado", algo como se você estudasse na ESPM e de repente soubesse que ela foi comprada pela UNIBAN. O investimento que o aluno fez em um diploma teria depreciação como sinalização social e perderia competitividade no mercado. 

Os professores temem por seus empregos, e pela possibilidade de redução salarial. Argumentam que as faculdades "populares" pagam menos do que as de nicho. E alguns têm participado ativamente das manifestações, insuflando alunos, o que é absolutamente questionável.

A comunicação oficial da instituição tem sido pouco ágil em atuar na situação. 

Conclusão? O cenário está armado, e no estilo "todos perdem".

Algumas coisas chamam a atenção:


1 - Diante da visibilidade dos elementos que geram a insegurança no cenário, a comunicação oficial poderia trabalhar com estes temas para minimizar o impacto de uma possível negociação. Se o medo dos alunos está associado a ter um diploma menos valorizado, este é um assunto para a pauta desta comunicação. Avisar aos alunos que mesmo que a FECAP fosse vendida a instituição garantiria um diploma com a marca FECAP para todos que estão cursando no momento. O aluno não está tão interessado nos rumos comerciais, mas sim naquilo que impacta a sua vida. Diploma, grade curricular, mensalidade, estas coisas interessam.


2 - Reunião presencial com os professores é bom, e comunicados também. Mais do que isto, é importante informar aos professores sobre a responsabilidade que eles têm ao insuflar alunos contra a instituição, e também é relevante dar algum tipo de informação sobre o que está acontecendo e o que pode acontecer com o grupo de professores caso a instituição seja vendida.


3 - Lideranças de alunos e de professores devem ser convocadas, separadamente. É necessário compreender os motivos que os levam a atuar neste cenário e qual a representatividade que eles têm. Alguns alunos, em tempos de Facebook, podem estar sendo motivados por vaidade ou tentativa de projeção social (uma minoria é motivada pura e simplesmente pela bagunça, o resto quer saber o que está acontecendo), e há inúmeras maneiras de atuar com pessoas com estas motivações. 
Professores querem segurança: analise o que pode ser oferecido neste aspecto e cumpra o que prometeu. Caso as lideranças não queiram negociar exija novos representantes dos grupos.


4 - O Jurídico deve ser acionado, já que a marca está sofrendo impacto com o processo e sendo utilizada de maneira indevida (como no caso das redes sociais). Como há documentação de sobra das atividades dos queixosos, cabe a instituição buscar reparar os ataques que a instituição está sofrendo. É melhor mostrar que existe uma preocupação com a marca mesmo que ela seja "retrógrada" e pouco democrática (como acionar o Jurídico) do que passar a a sensação de desleixo com a identidade da instituição.


5 - Vale a pena contratar uma consultoria para ajudar nesta situação. Um grupo de pessoas de fora tentando ajudar pode ser bastante útil no cenário. Não me ofereço pois ainda me considero "de dentro", mas conheço um monte de gente qualificada para atuar neste cenário.

Espero que tudo dê certo neste processo, seja lá qual for o resultado. Torço por um final feliz e sei que com um plano de gerenciamento de crise a situação pode ser controlada.

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