terça-feira, 30 de abril de 2013

380 mortos em Bangladesh - A Responsabilidade Social e o Mercado Globalizado

Acordei hoje e não consegui deixar de pensar no Dilema do Mandarim: Se você tivesse a oportunidade de matar um Mandarim no Oriente para ficar com a fortuna dele, você mataria?
A resposta natural é Não!
Mas e se você não precisasse mesmo matá-lo? Bastasse ligar para alguém que este alguém faria o serviço?
E se o Mandarim estivesse velho e doente, praticamente morrendo? E se ele não tivesse herdeiros, e sua fortuna nunca fosse descoberta por ninguém?
E se soubesse que o matador agiria de forma rápida e indolor?
Com a atenuação das "notas críticas" da situação, tendemos a começar a mudar de opinião, porque conseguimos criar justificativas pseudo-lógicas para nossos atos.

Está vendo esta imagem aqui ao lado? Ela é da página inicial da Loblaw, número um em alimentos do Canadá, país civilizado, com empresas civilizadas, e discurso civilizado. Responsabilidade Social com as comunidades de todo o Canadá. Mais de mil pontos-de-venda.

Outra empresa irlandesa, a Primark, se gaba no seu site dos projetos de Responsabilidade Social que desenvolve em vários lugares do mundo. Se quiser ver, basta clicar aqui.

Está vendo esta outra imagem aqui? É do buraco que abriu perto de Dacca, em Bangladesh. Um prédio gigante ruiu, onde mais de três mil pessoas trabalhavam empilhadas na indústria têxtil que abastece quem? As lojas da Primark e da Loblaw, entre outras.
Duas mil e quinhentas pessoas foram retiradas dos escombros com vida. Mas quase quatrocentas pessoas morreram soterradas.

A Loblaw e a Primark já se manifestaram oferecendo ajuda financeira para as famílias dos mortos na tragédia, não se eximiram da responsabilidade, e estão agindo antes mesmo de serem acionadas pela justiça.

Mas será que podemos "vender" Responsabilidade Social como se faz atualmente? É possível agregar este valor quando não há controle do processo de produção? E quando envolve prestadores de serviço do outro lado do mundo?

De volta ao Dilema do Mandarim, lembro que temos um ditado bastante popular no Brasil que diz que "O que os olhos não vêem o coração não sente".
Sofremos muito mais com a perda de nosso hamster de estimação do que com a morte de milhares de pessoas no Tsunami na Ásia, e isto vale para você e para mim, todos fazemos isto.
Só quando uma tragédia acontece que revemos temporariamente nosso pensamento e agimos de maneira paliativa.
Mas fica a pergunta: Será que estas duas empresas não sabiam das condições de trabalho das empresas fornecedoras? Ou será que, em nome de um modelo de vida "bom, bonito e barato" de primeiro mundo não resolveram abdicar de prestar atenção, pois ver o mendigo todo esfarrapado catando comida no lixo deixa a gente sem vontade de comer?

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